• Redação - 04/11/2025 20:25 || Atualizado: 04/11/2025 21:03

Uma operação policial deflagrada no final da tarde desta terça-feira 04, pela Polícia Civil do Piauí, trouxe à tona novos desdobramentos sobre um suposto esquema de lavagem de dinheiro e fraudes fiscais envolvendo postos de combustíveis. Entre os alvos da investigação está o empresário Haran Santhiago Girão Sampaio, que, segundo informações, teria transferido R$ 230 mil para a conta do ex-assessor e aliado político do senador Ciro Nogueira (PP-PI), Victor Linhares de Paiva.  A casa da empresário, localizado em um condomínio de luxo e o escritório do Posto HD, localizado no edifício Manhanttan, ambos na zona leste de Teresina, foram alvos de busca e apreensão. 

De acordo com os registros financeiros, o depósito foi feito em 20 de dezembro de 2023, em uma conta aberta por Victor Linhares apenas oito dias antes na fintech BK Bank — instituição que, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), foi identificada como um dos canais de lavagem de dinheiro utilizados pela facção criminosa PCC, na Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto deste ano.

O relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) aponta que, logo após o depósito, Linhares transferiu o valor para outra conta em seu nome, sem movimentações posteriores — o que levantou suspeitas de que a conta teria sido criada exclusivamente para essa transação.

A coincidência temporal entre o depósito e a venda da rede de postos HD Petróleo, pertencente a Haran Sampaio e seu sócio Daniel Coelho de Souza, também chamou atenção dos investigadores. A negociação foi feita com um fundo de investimentos administrado pela Altinvest, empresa já investigada por envolvimento na mesma Operação Carbono Oculto.

Ligação com Ciro Nogueira

Victor Linhares é  ex- Secretário Municipal de Articulação Institucional de Teresina (SEMAI), cargo que ocupava desde janeiro de 2025. Linhares foi substituído na última segunda-feira (03), pelo o então deputado federal, Júlio Arcoverde. Antes disso, foi vereador e assessor direto de Ciro Nogueira, além de ter atuado na liderança do Partido Progressistas (PP) no Senado em 2020.

Políticos piauienses apontam Linhares como um dos principais aliados e herdeiros políticos de Ciro Nogueira, com expectativa de disputar uma vaga na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal em 2026.

Enquanto isso, a Polícia Civil do Piauí segue com a operação, para investiigar as conexões financeiras de Haran Sampaio e Daniel Coelho, cujas movimentações, segundo o Coaf, ultrapassam milhões de reais e podem ter ramificações em outros estados.

A venda suspeita de uma rede de postos de gasolina no Piauí

O empresário que transferiu R$ 230 mil a Victor Linhares era dono da rede de postos de combustíveis “Postos HD”, que também foi alvo da Operação da Polícia Civil do Piauí hoje, e é um dos principais grupos empresariais do setor nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins.

A investigação, segundo relatório da Polícia Civil, “foi iniciada após ocorrências sobre adulteração na quantidade de combustível abastecida e buscou explorar possíveis conexões com o crime organizado”. Os investigadores também apontam no relatório “similaridade com a operação Carbono Oculto”.

A principal empresa do grupo, HD Petróleo Ltda, foi aberta em 13 de outubro de 2014 por Haran Santhiago Girão Sampaio e Danilo Coelho de Souza, com o capital social de R$ 200 mil e com cotas divididas igualmente entre ambos.

A rede cresceu e ganhou notoriedade regional. Em dezembro de 2023, a empresa foi vendida para a Pima Energia Participações Ltda. O valor da venda não foi informado no contrato de compra e venda registrado na Junta Comercial do Piauí. Apenas foi informado que o capital social da empresa subiu para 300 mil e que 100% das contas pertencem à Pima Energia.

O que chama atenção, segundo relatório da Polícia Civil do Piauí,é que a Pima Energia foi aberta seis dias antes de comprar a rede de postos HD.

O único sócio da Pima Energia  é o Jersey Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, que por sua vez é administrado por uma empresa, também suspeita de lavar dinheiro e, igualmente, alvo da operação Carbono Oculto: a gestora de fundos Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros.

Hub de soluções financeiras, a Altinvest é liderada pelo advogado Rogério Garcia Peres e administra 10 fundos citados pelos promotores na Carbono Oculto. O MP-SP afirma que Peres é um dos responsáveis pelas “dinâmicas fraudulentas envolvendo fundos e a BK Instituição de Pagamento”.

Advogado, Peres  também é apontado pela promotoria como “administrador de fundos de investimento, amplamente envolvido com o grupo Mohamad [Mohamed Hussein Mourad], sócio em postos de combustíveis”. Mourad, mais conhecido como “Primo”, é acusado de liderar o esquema de lavagem de dinheiro do PCC, junto a Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”. Ambos estão foragidos da Justiça.

Após a compra pela Pima Energia, os postos de gasolina da rede “Postos HD” passaram a ser chamados de Rede Diamante. De acordo com a investigação da Polícia Civil do Piauí, há evidências de uso de empresas de fachadas vinculadas às marcas “Postos HD”, “Postos Pima” e “Postos Diamante”, “que tem suspeita de ligação com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)”.

“As evidências apontam para possível sobreposição de registros ou compartilhamento de estrutura física entre diferentes pessoas jurídicas, indicando manobra para ocultar operações financeiras e dificultar a rastreabilidade de recursos, prática típica de lavagem de capitais”, destacam os investigadores.