Redação - 10/07/2025 13:42 || Atualizado: 10/07/2025 13:44
Por Hielbert Ferreira
Advogado
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos nomes mais influentes do Centrão, voltou ao centro das discussões políticas após recentes especulações sobre sua possível desistência de concorrer à reeleição ao Senado em 2026. A possibilidade foi ventilada pelo Secretário de Governo do Piauí, Marcelo Nolleto, reacendendo críticas sobre a volatilidade política do parlamentar, que já projetou, inclusive, compor chapas presidenciais como vice.
O movimento não é isolado na trajetória do senador. Ciro Nogueira se tornou conhecido não apenas por seu papel estratégico no Congresso, mas também pelas mudanças de posicionamento ao longo dos últimos governos. Enquanto hoje critica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por usar o discurso “nós contra eles”, classificando-o como “radical” e “ultrapassado”, o senador já esteve alinhado ao petismo em períodos anteriores, tendo defendido tanto Lula quanto Dilma Rousseff em suas gestões.
Essa flexibilidade discursiva acompanha as alianças partidárias que o PP, presidido por Ciro, tem estabelecido nos últimos anos. A sigla que, em outros momentos, manifestou fidelidade ao projeto petista, migrou integralmente para a base de Jair Bolsonaro durante o último governo. Agora, o partido passa a flertar com outras possibilidades, incluindo a eventual candidatura presidencial do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), cenário que poderia mudar novamente o eixo das alianças nacionais.
Críticos veem nesse histórico sinais claros de oportunismo político, onde bandeiras ideológicas são trocadas de acordo com a conveniência eleitoral. Para eles, o senador representa o retrato de uma classe política que se move conforme a direção do vento, ora abraçando discursos progressistas, ora conservadores, dependendo do governo de plantão e dos rumos do cenário eleitoral.
Ciro Nogueira, porém, defende-se com o argumento do pragmatismo. Para ele, política é a arte do diálogo e da composição. Aliados próximos reiteram que essa capacidade de transitar entre diferentes grupos é o que garante governabilidade e recursos para estados como o Piauí, onde o senador mantém sólida base eleitoral.
Ainda assim, cresce o questionamento ético sobre a necessidade de coerência no discurso político, principalmente por figuras públicas que ocupam cargos de liderança partidária nacional. Para setores da sociedade civil, não se trata apenas de alianças políticas, mas de valores e compromissos ideológicos que deveriam permanecer inegociáveis.
No cenário atual, permanece a dúvida: em 2026, Ciro Nogueira se manterá na disputa pelo Senado ou será novamente protagonista de um movimento de recuo estratégico? E, mais importante, qual será sua próxima bandeira?
Enquanto isso, o eleitor segue atento — e muitos esperam que, seja qual for a escolha, ela venha acompanhada de coerência.